Custa
pousar o bico da caneta sobre o papel liso, despido de sentimento, para
escrever sobre ela, a saudade. Recebo-a como uma aragem oriunda de oceanos de
calmaria, de ventos inexoravelmente mordazes, percorrendo montanhas e encaro-a,
sempre, mas sempre, triste.
Então,
ao magnificente toque da aragem no rosto, o oceano transfigura-se nos meus
olhos e avança sobre a minha pele marcada pelas feridas feias da memória.
Feridas que custam a desaparecer. Entranha-se, tal água cruel, na crusta de
feridas estagnadas, secas, formando vales e montanhas no meio rosto pequenino e
feio e desconhecido…Um rosto meu. Choro em vão, para regar os vales e as
montanhas, sonhando com os frutos que suas árvores, algum dia, poderão vir a
dar-me; para que, por breves instantes, a saudade se atenue um bocadinho, um
pouco!, e eu consiga esboçar levemente um sorriso. Não o demonstro. É má, a
saudade. E a aragem chega, levanta o meu cabelo, passeia com ele, entra-me
pelos ouvidos e agarra-me com medonha garra, quanto a presente nesta impertinente
aliteração. Reviro os olhos e defendo-me e ela, sádica e robusta, apodera-se de
mim.
Apodera-te,
então. Não quero saber.
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