Mendigo que choras, não chores. Sabes que foste
rejeitado e provaste o sabor amargo da derrota, que por veredas e trilhos
sinuosos tentaste, porventura, vencer. Mas não. Não venceste. Queres que esse
permanente sabor se torne, pelo menos, agridoce, mas cada dia passado é apenas
um grande passo na intensidade daquela amargura intragável.
Por
isso, mendigo, não sufoques. Deixa e não impeças a amargura, desconhecida e fortificada
durante anos que perderam o número que os caracterizam, fluir interiormente e
chora e grita e revolta-te…
Porém,
não pares. Ou talvez...Pára! Pára, agora, de chorar. Pára de sobreviver. Vive.
Poderás ter a sorte de amanhã a vereda se tornar inocentemente colorida, mais
viva e em vez de provares um prato que sabe a tristeza e solidão, provarás um
que sabe a esperança.
Não
fiques por aí. Com experiência te digo, que a esperança não é remédio, mas sim
um mero e fugaz meio que revela e desperta a vontade de escapar a uma vida
monótona, corrida, estagnada. E já que esperança implica esperar, não esperes,
mendigo. Levanta-te e encontra quem te espera, quem te levará a provar um
bolinho docinho e revolucionário.
E,
conto-te, mendigo, tu já foste audaz, já te enredaste em aventuras desgraçadas
e tornaste-te um desgraçado. Não te deixes desgraçar mais, não. Olha com olhos
de sentir e não com os de ver. Sente, então, todas as sensações, carnais e
emocionais, e devora tudo. Devora-te!
Pois,
mendigo, tu choras e eu olho-te. Com olhos de sentir.
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