quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Eu, que escrevo muito...

Eu, que escrevo muito, muitíssimo, resolvi escrever hoje - o que é já algo do quotidiano. Apesar de escrever todos os dias e de ter mentido precisamente há dois milissegundos acerca dos meus hábitos, o dia de hoje conduziu-me à escrita, não porque escrevo todos os dias, mas porque não escrevo há muito tempo e porque o que quero é escrever. Confuso, isto? Sim, confuso, respondam. Tal como eu sou: confusa. Pois bem, o assunto que me traz cá hoje é não a minha capacidade hábil de mentir mal, mas antes o meu nada regular ritual de escrita. A verdade é que - e não sei bem porquê - não consigo escrever diariamente, pois as palavras não me chegam; tenho, pois, o problema contrário ao de muitos escritores (note-se, no entanto, que nem escritora sou e ficaria feliz se, pelo menos, atingisse o nível de pseudoescritora), ou seja, a eles sobejam-lhes as palavras e, às vezes, nem os deixam esbanjar os seus pensamentos furiosos e brilhantes no papel. A mim, falta-me a imaginação e a vontade.
Em primeiro lugar, a imaginação não pode ser considerado algo nato em mim e, infelizmente, não o é, dado que não nasci para imaginar, mas para observar. E, a partir destas observações que se gravam no meu subconsciente, consigo construir, grosso modo, a minha imaginação, edificada por peças concretas que resultam em textos abstractos, mal escritos e quase indecifráveis.
Em segundo lugar, importa ressalvar a vontade de escrever, vontade esta que não me assola todas as manhãs ou depois de todos os encontros amorosos que tenho, como certamente acontecia com Pessoa, que detinha uma vontade voraz de se apoderar do branco. Eu, eu própria, não tenho. Primeiro, porque o branco assusta-me - de tão imaculado que é - e segundo, porque posso colorir a minha própria página de escrita no computador.  Por outro lado, o cansaço que me atormenta ao final do dia, fruto das minhas tarefas (as quais não vou revelar, pois a minha identidade é anónima), fala mais alto do que a vontade de escrevinhar.
Estas são as razões que apresento, embora muito sucintamente, como justificação da minha ausência e espero honestamente que as compreendam - se é que tenho alguém que leia o texto para as compreender. Com a promessa de ser mais regular na escrita, despeço-me. Um beijinho, Maru.

domingo, 21 de outubro de 2012

Nada(.)



Tenho dezasseis anos. Tenho sede. Sede amor, de alegria, de compaixão de sedentarismo e de loucura. Tenho cabelo loiro. Tenho vontade. Vontade de voar, de sentir, de amar, de conviver, de experimentar, de tentar, de batalhar e de conseguir. Tenho olhos castanhos. Tenho objectivos. Objectivos de vida, de trabalho e de relacionamento. Tenho os pés exageradamente grandes. Tenho medo. Medo de falhar, de me desiludir, de desiludir outrem, de fugir, da solidão, da angústia, da tristeza, da futilidade e da falsidade. Tenho as unhas estragadas. Tenho cicatrizes. Cicatrizes de quedas feias mal amparadas, de maltrato psicológico, de emoções demasiado ríspidas para a mente, de ilusões a longo prazo e de marcas deixadas pelo choro. Tenho tudo e não tenho nada. Quero tudo e não quero nada. Quero o que tenho, e o que quero é, vendo bem, nada.

sábado, 15 de setembro de 2012

(ma)cabra outra vez.

Não sei se fui abençoada à nascença ou se, por outro lado, tenho um anjinho protector e fofinho - branco e de olhos azuis, iguais àqueles pintados no Renascimento -, porque, não sabendo mais que me faça, não sei ser má e forte e ousada. E essa audácia aveludada de malvadez e ousadia enfeitiça qualquer um, até que nasce o desejo, que os deixa loucos, loucos, loucos. Pobres e coitados. Pobre e coitada de mim. Não me fazia mal nenhum um pouco de ousadia, de malvadez sensata, daquela que não faz mal ao menino Jesus e aos anjinhos; por outra, uma pimenta na salada sem tempero que sou, pois, até aposto que manifestar sensualidade não é crime. É lindo. É sensual... Precisava disso. Vou fazer isso. É preciso crescer, e quanto mais adiar este malfadado amadurecimento cruel, mais angelical fico. Bem, adeus. Agora, vou transfigurar-me no meu eu escondido, e vou ousar-me e vou ser sensual.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

E eu fico feliz por ver o céu

Há momentos na vida que nos mudam. Completamente. Vêm não sei bem de onde e fazem-nos ver a verdadeira essência do nosso pequeno espírito. Há momentos que são considerados como os melhores de uma vida e, na verdade, uma vida não seria igual sem tais ocasiões marcantes e profundas que moldam bruscamente o carácter de cada um. E, no entanto, há momentos que são rotulados como banais e pouco deslumbrantes; momentos que são, nada mais nada menos, - pensando bem, bem - as rotinas enfadonhas que constituem o pão nosso de cada dia. Logo, a vida é um aglutinado de momentos, ainda que uns sejam mais atrozes do que outros. E, assim sendo, o problema deve estar mesmo nos momentos. Talvez a importância em demasia que lhes é dada  oculta, de certo modo, - não, não é de certo modo, é de todos os modos - a beleza do céu que habita por cima de nós. Por isso, hoje, eu só quero ver o céu, pois isso é prova de que estou viva e é prova - sim, isso mesmo - de que estou preparada para viver um momento; um momento que só a vida me pode dar e, que eu saiba, os momentos nunca deram vidas.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Parabéns, Maria!

Hoje, dia um de Agosto, tenho de dar um beijinho especial à minha amiga Maria que completa dezasseis anos de existência. Muitos parabéns, Maria. Espero sinceramente que completes muitas mais jornadas durante a tua vida.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Palavras, que palavras?


Sobeja-me a ansiedade de escrever. Pena não passar de ansiedade. Pergunto-me - valha-me Deus se me pergunto! - qual será o porquê de tanta, tanta ansiedade. Não sei escrever, enfim. Não controlo estes seres tocáveis, chamados palavras. Há tempos que me andam a fugir por entre os dedos e eu, coitada de mim, pareço uma louca, uma dissimulada que corre freneticamente atrás delas; mas são céleres, dotadas de uma rapidez que nem imaginava que possuíam. Bem, elas são tudo. Penso, agora, que as palavras são aquilo que comanda a minha vida. Já pensei entrar em guerra para me aceitarem de volta e me perdoarem, mesmo que ainda não tenha entendido qual o erro fatal que cometi e que me impede de escrever. De facto, tenho de me reconciliar com as palavras. Só me resta saber como. Formulei duas alternativas para já. Ei-las: pouco a pouco, vou rabiscando uns gatafunhos num papel amachucado e desbotado (para não as provocar, já que papel branco pode constituir uma afronta). Porém, apenas escreverei umas palavras simples, ou melhor, umas frases simples. Nada de complexo, nada mesmo. Depois, quando o branco já não for uma ameaça veemente, comprarei um caderno com uma capa preta a fim de atenuar aquele branco inicial pronto para ser coberto de tinta azul da minha caneta. Aí começarei a pedir desculpa piedosamente. E acredito, com muita garra e perseverança, que aqueles seres velozes que não gostam de mim se vão render e deixar-se-ão ser controlados pela minha mão que segura firmemente um borbotão de tinta. Contudo, não tenciono, mal as tenha em meu poder, domá-las. Que fique bem claro, por favor. Elas são tocáveis, mas indomáveis. Quero tornar-me uma aliada que as molda consoante os fins para os quais as comprometo. E ainda, serei meiga. Um abraço aqui, um carinho ali. Ulteriormente, num sopro, sem ninguém notar, elas estarão ao meu lado, subjugadas.



quarta-feira, 6 de junho de 2012

"amar mais do que ontem e bem menos do que amanhã"

Não o ames como se não houvesse amanhã, porque ele não vai ligar-te. Vai repugnar a atenção demasiada que lhe dás, e não vai querer estar contigo. Tornar-te-ás chata, pouco interessante, por isso ama-o bem menos   em relação ao que ele te ama. Ele é só mais um. Um que tu amas, mas com moderação. Não lhe ligues sempre, sê paciente. Ele vai voltar quando perceber que tu és a pessoa cujos dedos encaixam perfeitamente na sua mão; ele vai entender que tu és a rapariga que o vai ajudar sempre, independentemente do que ele te possa fazer sofrer. Tu vais ser uma mulher de garra, dado que a perseverança será a tua maior virtude.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

(ma)cabra

Às vezes gostava de ser assim. (Ma)cabra, má. Sim, porque essas raparigas são mais duras, mais rígidas e dizem aquilo que têm de dizer, quando o querem dizer, a quem o quiserem dizer. Têm lata, muita lata, por sinal. E isso falta-me. Qualquer dia dá-me um clique luminoso inesperado e revelo-me (ma)cabra, sem escrúpulos, torno-me senhora de mim mesma, não senhora que serve os outros. Deveria guiar-me pelos meus instintos, pelas minhas vontades caprichosas, pelos meus quereres; e nada, nada, me faria parar... Porque há tempo reparei que o meu servir aos outros não se está a tornar recíproco, mas sim monótono. Maldito servir. Pobre de mim que sou como não devia ser, que não sou fria, que não sou rebelde. Que não sou cabra.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Dois mundos e eu


Elas caem-me, as lágrimas. Se me dizem, então, que sou racional, não me apetece mesmo acreditar. É que parece que não sou, porque elas caem-me descontroladamente e, por mais que queira, não as consigo parar. São velozes, demasiado velozes para ouvirem o grito autoritário que lhes tento transmitir: parem! Mas elas não ligam nada! 
Escorrem pela minha cara adiante sem dó nem piedade e humilham-me à frente de todos. Agora entendo qual é o primordial, o supremo dos pontos fracos – o choro. E pergunto a mim mesma – uma vez, duas vezes, infinitas vezes – como podem pingas de cloreto de sódio, dissolvido em água, enfraquecer-me de tal modo.
Cheguei mesmo a pensar que se tratava de uma presságio maldito que me atormentava. Mas não, não é nada disso. É de mim. Sofro de uma falta de controlo lacrimal, mas também de uma necessidade voraz de chorar. 
E, por isso, considero-me uma jangada cambaleante num oceano tumultuoso, um oceano que me instila a chorar e um outro que reprova meu choro. Um oceano contraditório, enfim.
Estou entre duas fachadas distintas: a da felicidade e a do choro. Não vivo sem elas, não. Queria, garanto a Deus que queria, abstrair-me da mágoa e inspirar a alegria e a felicidade e a euforia. Contudo, não o consigo fazer, pois as correntes que me enclausuram a alma são demasiado rígidas para serem quebradas. Posso, isso sim!, mergulhar mais fundo nas épocas do sereno e do feliz para, pouco a pouco, desacentuar a velocidade com que cada gota daquela água impaciente percorre o meu rosto triste e franzino. Pois eu, eu agora entendi que não estou entre dois mundos. Sou superior, sou mesmo. Somente me encontro no meio deles.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Concreto vs abstracto


Vou ser concreta, porque o abstracto não se fixou em mim de manhã. Na verdade, sinto uma necessidade de imparcialidade e frieza que há muito não sentia. Não sei porquê. Não sei mesmo. E agora, estão a ver (?), o concreto está a transformar-se em abstracto lentamente, porque eu não consigo espremer-me ate ficar telegráfica e sem sentimento. 
Ai, não, não! Vou ser concreta, de uma vez por todas, e deixar estes eufemismos que de úteis possuem pouco, para me precaver de possíveis recaídas sentimentais e pouco racionais. Sim, sim… Vou tornar-me um ser comandado pela Razão e não pela alma a fim de não criar expectativas inexistentes ou desejos que nunca serão realizados. Já que sou incapaz de estabelecer um fio de comunicação desprovido de emoção, tenho de tentar ser cérebro e só cérebro. E não, não é ganância nem insensibilidade – é preocupação com a pessoa que fui e medo da pessoa que posso vir a ser.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Um sono (in)determinante...

Parei. Respirei o odor, a fragância que pairava nas redondezas do meu corpo. Adormeci, por tempos, num sono de fantasia e indiferença para com o mundo. Beijei, sonhei e não abri os olhos uma única e ínfima vez. Não queria acordar mesmo. Sim, foi bom. Foi muito bom. Bestial, sem dúvida. E agora acordei para este mundo sóbrio sem beijos e sem abraços, ou melhor, provido de abraços vorazes e beijos que são mordidelas em carne tenra. Começou o início do desgaste, da frustração; as nuvens, que são trevas, são mesmo!, cobriram os céus de negro e incentivaram o uivo dos ventos da malícia que acabrunham a vida de todos ao acordar. Porque não fomos feitos para abrir os olhos, mas sim para os fechar e depois sonhar, não mais quero acordar. Muito pelo contrário. Desejo aquele adormecer lento e carinhoso, aquele que merece ser embalado, para que o recomeçar de um novo desgaste nunca mais se repita.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

(In)capacidade

Ando à procura de um caprichosinho para escrever, um capricho que me faça brotar qualquer coisa do peito para fora. Sim, é isso. Estou mesmo perdida. À nora. A escrita sai-me às pingas e não com aquela fluidez invejosa do início. Não!, não estou perdida - é preguiça, isso sim. Estou sedentária. Estarei ou não estarei? Sim, estou. Estou mesmo. Oh...Preguiça? Eu? No que me tornei! Apetece-me morrer por minutos e acordar a seguir. Vou fazê-lo. Faço? Oh, não. Não faço. É impossível.
Agora descobri! (Maldita mente...Qualquer dia embrenho-me num nó cego e apertado que me estrangulará a alma). Oh, claro, claro! Como não percebi? É óbvio que estou confusa.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Sem título propositado

Pergunto-me muitas vezes se sou realmente livre. Até podia colocar a grande questão como título, a letras garrafais, para mostrar que sei filosofar, mas, falando a sério, não me apeteceu, porque a minha finalidade é saber quem sou, o que sou e se sou livre. Atormenta-me este tipo de questão. Não admite meios-termos, não. Ou somos ou não somos. Todavia, podemos ser livres, por vezes, e por outras, não. Aí já admitamos um marotinho aroma a meio-termo. É por isso que não respondo, já que não sei qual a melhor resposta. Serei livre? Serei mesmo? E não me farto de perguntar nunca. Sou humana, enfim. Só me confunde o facto de andar inocentemente preocupada com tantas interrogações de maluca alucinada, questões que tanto interessam a todos, mas que são encobertas por uma vergonha irregular de indiferença...Porém, eu não sou indiferente. Não consigo. Chamem-me louca, maníaca e até dissimulada, mas hei-de chegar perto da resposta, e, nesse dia, direi que já estive mais longe, porque só me restará encurtar ainda mais a distância.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Para a minha amiga...

Porque ela foi a primeira pessoa que ressuscitou o "olá" que há em mim, porque foi a primeira a ajudar-me, escrevo-lhe este texto, como forma mínima de gratidão pelo apoio que todos os dias recebo. Admiro-a com carinho, uma vez que é pequenina e tal pequenez não invalida a sua alma. E resta-me, num suspiro de ser telegráfico, dizer-lhe: obrigada, obrigada, obrigada: por me tornares uma pessoa melhor, uma pessoa mais digna; uma pessoa formada por pedacinhos do teu carácter.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Suspensa por um período de tempo

Pressinto que não ando a ser eu própria não só porque tenho saudades do meu eu do passado, mas também porque não reconheço o eu de agora, o eu frio e imparcial que sou. Antes, de facto, costumava ser mais natural, mais indomável e corria atrás de um tesouro longínquo, onde quer que ele estivesse. Agora, oh agora... Parece que a energia se dissipa dos meus pés e se evapora, sem me dar uma única trégua. Uma apenas.
Relembro-me, a propósito, das andanças de criança criativa e ingénua, que pintava, corria, saltava, sem ter uma pinga de consciência do que era o real, na altura. Concluo, portanto, que a felicidade é tanto maior quanto maior for a minha insignificância, e, por esta razão, tento inúmeras e consecutivas vezes reduzir-me a ela, mas a minha condição de humana não me apoia e o impulso pela sabedoria ecoa mais alto na mente e torna-me culta e sábia e douta. Porém, o que o impulso pela sabedoria não compreende são os meus desejos animais de liberdade alucinante, porque eu quero ser livre e selvagem e feliz.
No fundo, no fundo, eu já não sou eu, e gostava, pelo menos, de um dia voltar a montar este quebra-cabeças obstinado que se chama personalidade, para que mais tardar possa afirmar-me como pessoa, nua de juízos de valor e preconceitos; pronta para conhecer o desconhecido e dar a conhecer o desconhecido que há em mim.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Saudade desesperada

Perdoa-me por escrever tantas vezes sobre ela, mas notei que sou assim: uma rapariga saudosa, que anseia abraços e beijos nunca de despedida. Almejo aquele embalar sonolento e carinhoso que me dás com ternura, aquele com que eu sonho todas as noites, e depois olhas-me directamente nos olhos e transpareces tudo o que sentes, como se algo gigantesco surgisse nas tuas pupilas verdes. Não dizes nada. Olhas-me apenas com aquele jeito tão teu, que por mais palavras que use, por mais metáforas que aqui expresse, não conseguirei mostrar como és verdadeiramente. Porque isso só eu sei e só eu entendo a nostalgia e fantasia com que me olhas. E quando dou conta desnudas-me, e eu ergo-me nua de preconceitos, de sacrilégios para te abraçar e para desvanecer a saudade que me atormenta inospitamente. Tal abraço, meu caro, é o teu afogo de prazer e simultaneamente o meu apagar de saudade.

quinta-feira, 1 de março de 2012

E...

...amanhã há teste. Encarei este escrito como uma pausa no estudo árduo que tento convencer-me que faço. Porque na verdade não sei se o faço mesmo.
Seja como for, darei o meu melhor e deixarei a caneta esvoaçar e flutuar, pingando sua tinta, sobre o papel que serve de impulso e demarcação à minha vida.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A escrita e os seus caminhos pardos

Se bem que nunca entendi o impulso que me leva a ocupar espaço na blogosfera com textos deprimentes ou emocionantes, não consigo, por mais que tente, entender o que nos leva apenas a rabiscar duas linhas numa folha de papel.
Gente inteligente verá tal exercício como um desabafo de um dia mal passado, uma experiência inefável ou uma crescente necessidade de exprimir os seus sentimentos. Mas eu não o vejo dessa perspectiva. Escrever é mais do que isso. Se fosse somente um fugaz desabafo, tal não era uma condição suficiente, porque para desabafar existe a voz. E podemos soltá-la e deixá-la voar, até nos acalmarmos, finalmente.
Para mim, e anseio que não o seja apenas para mim, escrever é um caminho que me conduz até à felicidade, um pouco nostálgica e imaginária. Com estas letras, que por aqui dactilografo, posso ser quem eu quiser, o que eu quiser, e, imaginem só (!), posso ser eu. Quer a crença seja verídica ou não, ser eu própria não é um princípio fácil de incutir, na minha vida. Vario incessantemente mediante os contextos em que me insiro. Todavia, pior do que isso, vario também de ponto de vista, de personalidade. E o problema desta confusão desgraçada, que é o encontro do meu eu interior, é saber em quais dos contextos se revela a verdadeira essência que prevalece em mim.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Uma mínima, incongruente curiosidade!

Facto curioso que soube hoje. Já que eu, de nome pobre, tenho um mísero, mas atento poder crítico, não posso deixar passar em branco o comprimento abismal de alguns nomes. Nomes estes que têm de ser reduzidos para serem inseridos em documentos oficiais.
E, incrivelmente, deparei-me com outro inóspito facto: as pessoas mais afortunadas têm nomes mais compridos. Talvez seja para ostentarem o poder dos seus apelidos que passaram de geração em geração, ou apenas para o evocarem em bom som, numa apresentação formal. Digo-vos, certamente, pessoa simples tem nome curto. Nome pobre.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Que vá tudo para o inferno...



Sem dúvida que a vida se torna macabra, por vezes. Macabra, porque eu a acho macabra, sem sentido ou proveito de alguma substância minimamente boa. Um nada. Um absurdo nefasto que é incapaz de me preencher de forma conveniente para atenuar a dor dilacerante das minhas derrotas, tão árduas de ultrapassar. E sim, estou farta. Farta de todos os clichés incessantes, dos rumores que sussurram nos corredores, das confissões que faço à minha parede do quarto, imaginando eu, inexperiente, que um dia irei lançá-las a alguém e culpar esse alguém que me atormenta meticulosamente. Um alguém que eu odeio. Vai para o inferno. Eu sou aquilo que tenho de ser. Aquilo que não quero ser ou, porventura aquilo que quero ser. Não me amarram as mãos, que estão gastas de insultos e ofensas, nem me prendem os pés que caminham por escombros.
Os escombros são o trilho a percorrer, mas com eles posso edificar um tudo que te matará a ti, nada.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Uma entrada no diário

Sinceramente, e desculpem-me esta impertinente sinceridade, hoje acordei mal. A boca sensaborona revelou-se seca, e os meus olhos reviraram-se mal se fizeram ouvir os primeiros rudes sons matinais. Escusado será dizer que acordei graças aos movimentos muitos suaves e serenos da minha irmã enquanto passeia, feliz, num domingo de manhã, pelo primeiro andar daquela a que chamamos nossa casa. Talvez o facto de ser domingo compusesse, um pouco, o acordar desenxabido e involuntário. Pus um pé no chão, de seguida, o outro e lá dei os primeiros passos coxos de dorida pelo sono. Posso, agora, afirmar que já me habituei à rotina para a qual acordei, pois detesto que me arranquem daquele mundo do sonho que corre como quisermos, mas que tem, infelizmente, duração limitada.
Mas não nos deixemos abater por causa disso. O dia mal começou e os livros, os cadernos pautados lisos esperam-me, para que sejam alimentados com os meus rabiscos errados de estudo.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O inoportuno

Escolhemo-lo sempre e entreolhamo-nos, arrependidos, devido ao silêncio mordaz que nos assombra. Detestamo-lo, talvez por que o inoportuno não é oportuno para se dizer algo, é oportuno para se estar calado. E caímos numa inconveniência desenxabida, em que não falamos, não dizemos nada e agimos como meros passageiros. Pessoas de passagem.
Não gosto muito dele, do inoportuno, afirmo desde já. É mais fácil estender-me nas graças da conveniência e ver o comboio a passar, lento. Se porventura mergulho no inoportuno enervantemente insuportável, afogo-me, porque não sei nadar em águas agitadas. É assim que me sinto. Por detrás de tal silêncio, deveras ensurdecedor (!), há uma voz que berra dentro de mim, uma voz de desespero. Uma voz que me diz para continuar, e não deixar a água entrar pela garganta adiante.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

memória afortunada

Há algo que não controlo e que desejo arduamente. Não sei bem o que é, nem por onde anda, mas que me espia, espia!, e segue os meus passos de despercebida medrosa. Ainda não me atrevi a explorá-la melhor, quiçá por medo, por preguiça ou até por indiferença. No entanto, continuo a crer naquela força que me impulsiona para onde só eu sei e não me deixa – homessa! – pendurada, mas sim resgata-me como se eu fosse uma foragida ou desertora das guerras às quais não quero ir. Obrigada, memória.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Não quero pensar


Pensar. Não o consigo fazer, por mais que alimente a pretensão caprichosa e má de tentar, porque o pensar leva-me para onde não quero, para o castigo, como aquele que temos de cumprir virados para a parede, sem puder ver o bom, o céu, o tudo. Pois é. Estou de castigo, e só me consigo renegar ao impedir o pensamento, o rumo da mente, já que não quero ir lá ter, nem pensar nem respirar, sequer. Todavia, se lá for parar, nem que seja por pequeníssimos instantes, fujo, com quanta coragem tiver em posse, e digo desde já, que não é muita. Eu e a coragem não somos compatíveis, e a compatibilidade também não é compatível comigo, ela não quer que eu me una, me sinta um só, e leva-me, guia-me para o castigo da solidão. Odeio-o.  Se bem que eu sempre o temi, e agora ainda o temo mais, pois se pudesse agarrar-me já ao meu cantinho, onde posso ser eu, somente eu, agarrar-me-ia com unhas e dentes, e amordaçava-me, para não pensar. E não penso. Vou fugir e acabrunhar-me e rebaixar-me.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Críticas


Uma crítica não me desmoraliza. Torna-me mais forte e, deixa-me cheia de medo, uma vez que cada palavra proferida atinge-me, soberba, como uma facada no coração. Talvez isso me enfraqueça o corpo, mas não aligeira a alma, pois esta permanece imutável, quer eu queira quer não. O sangue da facada no coração pode jorrar, fluido, líquido e até, porventura, estancar daqui a muito, muito tempo, mas o sangue que jorra da minha alma cai às pingas insignificantes, que só são dignas de cair quando algo  é realmente merecedor de dor.
Não me perfuraste a alma, não! Dá quantas facadas quiseres no meu corpinho franzino, até eu ficar morta e fria, no chão da vida, mas não me darás facadas na alma. Porque eu não deixo... Há alguém que me tapa os buraquinhos pequeninos, como eu, da minha alma. E, presta atenção, o que os tapa não são remendos paupérrimos, mais sim rígidos e firmes.
Talvez consigas arrancar uma linha da costura perfeita, mas não arrancas, juro que não, o remendo todo, porque quem o fez tem como princípio a convicção.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Para ti


Compreendo a distância, a separação. Mas não entendo a mágoa que nos causa; a angústia que se aprisiona no meu ser, pelos quilómetros que distam entre nós. Não são eles que comandam amizades imutáveis, como a nossa... Não são rotinas entediantes e diferentes, que dificultam, por si só, o que sinto por ti. E já que escrevo para ti, não sei bem o que escrever, porque o que vivemos foi apenas nosso, e foi indescritível. Inefável. Não que isso seja mau. Não o é. Não que isso seja um factor para chorarmos de saudade agarrados ao objecto que nos mais liga e para nos arrependermos das escolhas que fizemos. Não! Escolhemos, decidimos. Eu escolhi estar longe de ti, mas não permitirei que essa distância nefasta me afaste da proximidade outrora adquirida, que permanecerá eterna no tempo.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Simplesmente dramático

É um drama, um drama ainda mais dramático aos quais estamos civicamente acostumados. Não suporto (ou talvez não simpatize) com a pretensão gulosa de "enfiarem" termos novos no nosso vocabulário,  tendo como desculpa o seu alargamento precioso, como se para sentir fosse preciso conhecer. De facto, nós sentimos, mas nem sempre conhecemos realmente o significado de tal sensação...  Dizem os peritos que é válido, é racional é inteligente incluir novos termos. Bem, meus caros, agora chocamos os dois?Hmm... Não, não sou racional, não sou inteligente. Sou eu.
E, quando estamos prestes a ser convencidos, desperta-se-nos um clique luminoso!, e deixámo-nos levar na onda paradisíaca e facilitista. Quem é que nos garante que seja tudo assim? Hoje em dia, não se cria uma sociedade inteligente, mas sim uma preguiçosa, mas convencida dos seus inexistentes dotes... Somos pais de uma sociedade banal, racional e não de uma emocional, que persegue os sonhos e não se deixa abater por algo que nos dizem e nos parece eticamente correcto. Falta-nos, a sério que nos falta, a essência, a assinatura pessoal. Mas já perdi a esperança, duvido que alguma vez consigamos ser nós próprios.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Apenas a aguardar

Há dias em que apenas aguardamos num silêncio profundo e de ansiedade, para que a sexta-feira tanto desejada chegue, pensando que no dia seguinte estaremos relaxados, e fortes e melhores. É mentira. É uma ilusão, não que esta seja má! Não. De todo. Mas convencemo-nos que o Sábado é bom, é diferente. Sim, é diferente.Aí sentimos o tão esperado toque de nostalgia, de fantasia, para o saborear, pedaço por pedaço na semana seguinte... Mas somos gulosos, somos? Em vez disso, preferimos comer tudo, e digerirmos a seco as migalhas a partir de quinta... Vá, hoje acabou-se a minha nostalgia. Vou roer qualquer coisa para ver se me aguento até sábado.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Quando a tua voz se torna independente.

Penso por vezes que o vou perder. Não o quero deixar fugir por entre os dedos, mas se o fizer, correrei, veloz. É que a felicidade é indecifrável…Será que não posso decifrar metade dela com ele? Quero-o. Acho que até que nunca quis nada como esta pretensão que sinto em querê-lo… E se o perfume dele não perdurar no tempo que nos separa, se eu perder a imagem do seu corpo na mente…Perco-me também. Não podemos ser os dois perdidos, pelo menos, tenho perdê-lo próximo de mim. Só me questiono múltiplas vezes porquê. É certo que o tenho, que ele me tem, que o desejo, pois apesar desta ambição caprichosa de o ter só para mim, há a distância…Aí não somos caprichosos, não! Porquê, mais uma vez, tê-lo só para mim? A resposta é tão fácil e tão dura de pronunciar…A vergonha atinge-me, estrangula-me e não me deixar soltar um amo-te. Ela pode tornar-me afónica, muda, aliás…! Mas ela, maldita, não me amarra e prende os dedos, nem me esconde a caneta para escrever a mais bela palavra presente num mundo de ódio aparente.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Carta nº indefinido...

Deus, sabes que oro sem rumo, sem propósito algum. Não que não goste de ti. Não que deteste usar esta anáfora de “nãos”, mas sim, Deus, porque não sei quem sou. Uma foragida, talvez. Renegada em recantos sombrios, escondidos por sombras convenientes e encoberta por nuvens escuras, nuvens de nada. Nada. Saber que sou nada já é, por si só, saber muito, saber algo sobre mim, pois de resto, não sei nada. E não gosto de mim, por usar demasiadas hipérboles, metáforas e outros recursos que embelezam disfarçadamente a minha forma impertinente de escrever. Deus, mas o que escrevo é para ti, e espero arduamente, por orações rasgadas de furor, que não te preocupes com sintaxe, erros de construção e pulcritude gramatical. Eu não o faço. Eu escrevo aquilo que sou, e sendo nada, não escrevo nada.