quarta-feira, 25 de abril de 2012

Dois mundos e eu


Elas caem-me, as lágrimas. Se me dizem, então, que sou racional, não me apetece mesmo acreditar. É que parece que não sou, porque elas caem-me descontroladamente e, por mais que queira, não as consigo parar. São velozes, demasiado velozes para ouvirem o grito autoritário que lhes tento transmitir: parem! Mas elas não ligam nada! 
Escorrem pela minha cara adiante sem dó nem piedade e humilham-me à frente de todos. Agora entendo qual é o primordial, o supremo dos pontos fracos – o choro. E pergunto a mim mesma – uma vez, duas vezes, infinitas vezes – como podem pingas de cloreto de sódio, dissolvido em água, enfraquecer-me de tal modo.
Cheguei mesmo a pensar que se tratava de uma presságio maldito que me atormentava. Mas não, não é nada disso. É de mim. Sofro de uma falta de controlo lacrimal, mas também de uma necessidade voraz de chorar. 
E, por isso, considero-me uma jangada cambaleante num oceano tumultuoso, um oceano que me instila a chorar e um outro que reprova meu choro. Um oceano contraditório, enfim.
Estou entre duas fachadas distintas: a da felicidade e a do choro. Não vivo sem elas, não. Queria, garanto a Deus que queria, abstrair-me da mágoa e inspirar a alegria e a felicidade e a euforia. Contudo, não o consigo fazer, pois as correntes que me enclausuram a alma são demasiado rígidas para serem quebradas. Posso, isso sim!, mergulhar mais fundo nas épocas do sereno e do feliz para, pouco a pouco, desacentuar a velocidade com que cada gota daquela água impaciente percorre o meu rosto triste e franzino. Pois eu, eu agora entendi que não estou entre dois mundos. Sou superior, sou mesmo. Somente me encontro no meio deles.

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