sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Li os poemas todos...

Li os poemas todos. Devorei-os… Passei pelo Mar Português, e folheei as páginas resplandecentes de furor e melancolia. Oh, Pessoa. Eu sou como tu. Sou nada. E de um aperto suave, passei para um asfixiante que me queria levar mais além. Avante. As lágrimas escorriam frias, geladas pelas páginas manuscritas e aparentemente ilusórias. Eu sentia-as, elas tocavam-me nas mãos, que serviam para mudar de página, de capítulo, de vida. A minha pele estremecia, e limpava uma e outra vez as mãos ensopadas de pranto acabrunhado, fruto de desgostos, de angústias… 
E, por entre, letras magníficas e sonetos gloriosos, tu, Pessoa, transparecias, na tua caligrafia maquinal e tão manuscrita, também, o olhar que te assombra. Um olhar triste. Um olhar de quem chora vorazmente, de quem escreve de modo furioso. E imagino-te, imagino-te tão nitidamente!, a desenhar cada letra, minucioso, e a rasgar as folhas do caderno de apontamentos. O caderno da tua vida. Rasgaste-o todo, Pessoa. O obséquio que faço para escrever é tão menos forte que o teu. E tu, que vida tão sádica tinhas, escrevias melhor, escrevias com a tua impensável alma. Eu não escrevo. Só quero, Pessoa, que me ajudes… Estejas onde estiveres. A primeira página do caderno já foi rasgada. Talvez rasgue as outras.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mendigo...

Mendigo que choras, não chores. Sabes que foste rejeitado e provaste o sabor amargo da derrota, que por veredas e trilhos sinuosos tentaste, porventura, vencer. Mas não. Não venceste. Queres que esse permanente sabor se torne, pelo menos, agridoce, mas cada dia passado é apenas um grande passo na intensidade daquela amargura intragável.
Por isso, mendigo, não sufoques. Deixa e não impeças a amargura, desconhecida e fortificada durante anos que perderam o número que os caracterizam, fluir interiormente e chora e grita e revolta-te…   
Porém, não pares. Ou talvez...Pára! Pára, agora, de chorar. Pára de sobreviver. Vive. Poderás ter a sorte de amanhã a vereda se tornar inocentemente colorida, mais viva e em vez de provares um prato que sabe a tristeza e solidão, provarás um que sabe a esperança.
 Não fiques por aí. Com experiência te digo, que a esperança não é remédio, mas sim um mero e fugaz meio que revela e desperta a vontade de escapar a uma vida monótona, corrida, estagnada. E já que esperança implica esperar, não esperes, mendigo. Levanta-te e encontra quem te espera, quem te levará a provar um bolinho docinho e revolucionário.
  E, conto-te, mendigo, tu já foste audaz, já te enredaste em aventuras desgraçadas e tornaste-te um desgraçado. Não te deixes desgraçar mais, não. Olha com olhos de sentir e não com os de ver. Sente, então, todas as sensações, carnais e emocionais, e devora tudo. Devora-te!
            Pois, mendigo, tu choras e eu olho-te. Com olhos de sentir.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Custa pousar o bico da caneta!

Custa pousar o bico da caneta sobre o papel liso, despido de sentimento, para escrever sobre ela, a saudade. Recebo-a como uma aragem oriunda de oceanos de calmaria, de ventos inexoravelmente mordazes, percorrendo montanhas e encaro-a, sempre, mas sempre, triste.
Então, ao magnificente toque da aragem no rosto, o oceano transfigura-se nos meus olhos e avança sobre a minha pele marcada pelas feridas feias da memória. Feridas que custam a desaparecer. Entranha-se, tal água cruel, na crusta de feridas estagnadas, secas, formando vales e montanhas no meio rosto pequenino e feio e desconhecido…Um rosto meu. Choro em vão, para regar os vales e as montanhas, sonhando com os frutos que suas árvores, algum dia, poderão vir a dar-me; para que, por breves instantes, a saudade se atenue um bocadinho, um pouco!, e eu consiga esboçar levemente um sorriso. Não o demonstro. É má, a saudade. E a aragem chega, levanta o meu cabelo, passeia com ele, entra-me pelos ouvidos e agarra-me com medonha garra, quanto a presente nesta impertinente aliteração. Reviro os olhos e defendo-me e ela, sádica e robusta, apodera-se de mim.
Apodera-te, então. Não quero saber.

Qual o impulso...?

Confesso que nunca fui apaixonada por blogues. Já escrevi neles, decerto, mas nunca um foi tão próximo e diferente como este tem vindo a ser, mesmo com poucos minutos de existência. Digo-vos que não sou experiente...Vou testar. E colocarei aqui todas as cartas por endereçar e que, porventura, não têm um destino certo. São cartas da alma, cartas que me completam... Talvez o vosso nome não esteja bem delineado no cabeçalho da dita carta, mas podem sempre imaginar que sim, que a carta é para vocês.