quarta-feira, 25 de abril de 2012

Dois mundos e eu


Elas caem-me, as lágrimas. Se me dizem, então, que sou racional, não me apetece mesmo acreditar. É que parece que não sou, porque elas caem-me descontroladamente e, por mais que queira, não as consigo parar. São velozes, demasiado velozes para ouvirem o grito autoritário que lhes tento transmitir: parem! Mas elas não ligam nada! 
Escorrem pela minha cara adiante sem dó nem piedade e humilham-me à frente de todos. Agora entendo qual é o primordial, o supremo dos pontos fracos – o choro. E pergunto a mim mesma – uma vez, duas vezes, infinitas vezes – como podem pingas de cloreto de sódio, dissolvido em água, enfraquecer-me de tal modo.
Cheguei mesmo a pensar que se tratava de uma presságio maldito que me atormentava. Mas não, não é nada disso. É de mim. Sofro de uma falta de controlo lacrimal, mas também de uma necessidade voraz de chorar. 
E, por isso, considero-me uma jangada cambaleante num oceano tumultuoso, um oceano que me instila a chorar e um outro que reprova meu choro. Um oceano contraditório, enfim.
Estou entre duas fachadas distintas: a da felicidade e a do choro. Não vivo sem elas, não. Queria, garanto a Deus que queria, abstrair-me da mágoa e inspirar a alegria e a felicidade e a euforia. Contudo, não o consigo fazer, pois as correntes que me enclausuram a alma são demasiado rígidas para serem quebradas. Posso, isso sim!, mergulhar mais fundo nas épocas do sereno e do feliz para, pouco a pouco, desacentuar a velocidade com que cada gota daquela água impaciente percorre o meu rosto triste e franzino. Pois eu, eu agora entendi que não estou entre dois mundos. Sou superior, sou mesmo. Somente me encontro no meio deles.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Concreto vs abstracto


Vou ser concreta, porque o abstracto não se fixou em mim de manhã. Na verdade, sinto uma necessidade de imparcialidade e frieza que há muito não sentia. Não sei porquê. Não sei mesmo. E agora, estão a ver (?), o concreto está a transformar-se em abstracto lentamente, porque eu não consigo espremer-me ate ficar telegráfica e sem sentimento. 
Ai, não, não! Vou ser concreta, de uma vez por todas, e deixar estes eufemismos que de úteis possuem pouco, para me precaver de possíveis recaídas sentimentais e pouco racionais. Sim, sim… Vou tornar-me um ser comandado pela Razão e não pela alma a fim de não criar expectativas inexistentes ou desejos que nunca serão realizados. Já que sou incapaz de estabelecer um fio de comunicação desprovido de emoção, tenho de tentar ser cérebro e só cérebro. E não, não é ganância nem insensibilidade – é preocupação com a pessoa que fui e medo da pessoa que posso vir a ser.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Um sono (in)determinante...

Parei. Respirei o odor, a fragância que pairava nas redondezas do meu corpo. Adormeci, por tempos, num sono de fantasia e indiferença para com o mundo. Beijei, sonhei e não abri os olhos uma única e ínfima vez. Não queria acordar mesmo. Sim, foi bom. Foi muito bom. Bestial, sem dúvida. E agora acordei para este mundo sóbrio sem beijos e sem abraços, ou melhor, provido de abraços vorazes e beijos que são mordidelas em carne tenra. Começou o início do desgaste, da frustração; as nuvens, que são trevas, são mesmo!, cobriram os céus de negro e incentivaram o uivo dos ventos da malícia que acabrunham a vida de todos ao acordar. Porque não fomos feitos para abrir os olhos, mas sim para os fechar e depois sonhar, não mais quero acordar. Muito pelo contrário. Desejo aquele adormecer lento e carinhoso, aquele que merece ser embalado, para que o recomeçar de um novo desgaste nunca mais se repita.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

(In)capacidade

Ando à procura de um caprichosinho para escrever, um capricho que me faça brotar qualquer coisa do peito para fora. Sim, é isso. Estou mesmo perdida. À nora. A escrita sai-me às pingas e não com aquela fluidez invejosa do início. Não!, não estou perdida - é preguiça, isso sim. Estou sedentária. Estarei ou não estarei? Sim, estou. Estou mesmo. Oh...Preguiça? Eu? No que me tornei! Apetece-me morrer por minutos e acordar a seguir. Vou fazê-lo. Faço? Oh, não. Não faço. É impossível.
Agora descobri! (Maldita mente...Qualquer dia embrenho-me num nó cego e apertado que me estrangulará a alma). Oh, claro, claro! Como não percebi? É óbvio que estou confusa.